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Warning

É, faz tempo que não ando por aqui… e já faz tempo que  pensava em escrever um post sobre colete e sua história. Mas precisava de inspiração. E inspiração é algo construído dialeticamente e pode ser perigoso.

Corro o risco de escrever qualquer coisa por considerar que sei algo sobre motociclismo e ao mesmo tempo corro o risco de não escrever nada esperando essa tão sonhada inspiração. Mas, graças à informação,  leitura e uma festa de entrega de coletes do Moto Grupo ao qual pertenço (Felinas da Fronteira para quem não sabe… rs) essa inspiração chegou.

Bem, acho que ela chegou numa manhã de sexta-feira depois de refletir muito a respeito de coletes, coletados, clubes e grupos… o que tem por trás de tudo isso? Qual a inspiração para se usar um colete? Se é que se trata de inspiração. Poderia ser modismo? Necessidade de identidade? Simplesmente mostrar uma etiqueta de pertencimento? O que move o sujeito que está por detrás do colete?

Annual Sturgis Black Hills Motorcycle Rally. SD, USA. August 11, 2011. Photography ©2011 Michael Lichter.

São essas as indagações que faço e que acredito que não serão respondidas neste post, mas que pretende ser o início de uma reflexão para todos, inclusive para mim.

Como na música Warning  do Green Day que faz uma advertência e questiona nossa sanidade e a sanidade do próprio mundo, é um perigo pensar que simplesmente usar um colete faz a pessoa ser responsável ou ser um bom motociclista. Não podemos banalizar o seu uso.

A letra dessa música diz muito do que eu penso a respeito deste universo do motociclismo. Muitas frases prontas, muitos discursos e muita gente que não sabe por que está usando um colete.

Mas vamos pelo começo, onde tudo começou então?

No início da era do motociclismo, os primeiros MCs, do jeito como os conhecemos hoje, eram formados por veteranos do exército que usavam o mesmo tipo de identificação com a qual eles estavam acostumados durante a Segunda Guerra Mundial: jaquetas de couro com pinturas indicando o seu esquadrão, inspiradas na nose art das aeronaves.

Por muito tempo a jaqueta de couro serviu dois propósitos: identificar o motoclube da qual o dono fazia parte  e se proteger dos inevitáveis tombos, já que os pioneiros eram chegados em corridas e não existe nada melhor do que o couro para salvar nossa pele. A razão de se trocar as jaquetas pelos coletes de couro ou jeans, nunca ficou clara. Mas existem algumas teorias:

Uma que acredita na influência dos cowboys, os vaqueiros americanos que usavam coletes de couro para proteger o peito do frio, mas de forma a deixar os braços livres para se movimentarem e cavalgarem melhor.

Outra teoria acredita que os coletes também foram a maneira encontrada de se mostrar o logo do clube tanto no calor como no frio, já que os primeiros grandes MCs surgiram na ensolarada Califórnia. Um colete jeans, por exemplo, pode ser usado tanto sobre uma camiseta quanto sobre uma jaqueta de couro, e você continua mostrando as cores do seu clube em ambas situações.

Quatis das Cataratas MC, Angeles Rebeldes PY MC, Guarás Paraguai MC e Felinas da Fronteira MG

Sem falar que existe um motivo muito prático para os coletes fazerem tanto sucesso entre quem anda de moto, e que vai muito além da imagem dos motoclubes: bolsos e mais bolsos. Não tem jeito melhor de carregar as pequenas coisas do dia a dia do que nos bolsos de um colete. Especialmente nós, mulheres, para carregarmos batom e celular (risos).

E aí sempre surge aquela velha discussão: mesmo não sendo de um MC ou MG posso usar um colete? Claro que pode. Você é livre para fazer o que quiser, desde que não provoque ninguém, como imitar a logo de um MC ou MG existente. Nem usar adereços de clubes 1% se você não faz parte deles. Afinal esse pessoal suou para conquistar seus escudos.

Mas se você quer ter um sentimento de pertencimento, com um grupo, minha dica é que você procure um MC ou MG na sua cidade. Descubra quem são, quais são seus objetivos, filosofia e princípios. Se forem consoantes com suas convicções procure saber como fazer parte, quais as regras.

Posso dizer de coração que não existe satisfação maior do que estar entre amigas com um propósito. Um espírito que une mulheres tão diferentes, com histórias únicas, mas que se entrelaçam, se misturam e por vezes, se confundem. Amigas que procuram seguir um estatuto, que procuram ser a cada dia uma motociclista melhor. Que batalham para conquistar o seu colete porque não é apenas uma peça de couro: é o resultado de uma luta por pertencimento.

E a entrega (ou merecimento) do colete é uma festa para todas, não somente para a aspirante mas para todas as membros do grupo. É um acontecimento lindo e memorável, onde relembramos a trajetória da motociclista, como nos conhecemos, tudo o que passamos juntas e pra finalizar, o grande ritual de entrega do tão sonhado colete.

Colete entregue pelas madrinhas Felinas da Fronteira
Entrando na brincadeira

O colete nos identifica para os outros, para os que estão de fora, porque entre nós é o espírito que fala, que transborda e que nos mostra dia-a-dia que estamos no lugar certo, que pertencemos a uma mesma família. O significado do colete está dentro de nós e simboliza o que somos e o que representamos para o Moto Grupo e para o motociclismo. E isso se reflete nas nossas atitudes e levamos para toda a vida.

Por fim uma advertência: Com colete ou sem colete seja você mesmo, consciente e apaixonada por motociclismo, sem modismos. Essas qualidades nos aproximam, nos fazem irmãos e sempre haverá respeito, independente do brasão que carrega.

Venha para o meu mundo e boas estradas!

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Rosely Sobral

Rosely Sobral (PR) - Loucamente apaixonada por motos e a favor da conquista do espírito livre a todos os amantes do motociclismo. Boas estradas, sempre!

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