Conheça a Corrida de Isle of Man TT Races

Se você nunca ouviu falar do TT Races, este post é para você.

Tive o prazer de visitar Isle of Man e claro, fiz questão de andar de moto, no circuito da prova que é considerada a competição mais mortal do mundo, o TT Races! Veja meu vídeo:

Localizada entre a Irlanda e o Reino Unido, Isle of Man é um país independente com cerca 80 milhões de habitantes. É importante enfatizar que embora faça parte do império britânico (tem a Rainha Elizaberth II como chefe do parlamento), o país não faz parte do Reino Unido. 

A encantadora ilha, com 572m2, oferece aos visitantes belezas naturais, prédios medievais e alguns bares agitados (principalmente  no verão), além da simpatia acolhedora do povo Manx (nome dado a quem nasce no país).

Todo ano no mês no mês junho Isle of Man sedia uma das competições de motocicleta mais tradicionais do mundo, o Isle of Man Tourist Trophy ou TT Races, como é comumente conhecida. Inclusive, a prova ja fez parte do Campeonato Mundial de Motovelocidade até 1976. A etapa no país foi retirada depois que alguns pilotos boicotaram a prova devido ao alto risco de vida.

Primeiramente preciso explicar como surgiu a vocação de Isle of Man para a velocidade.

Tudo começou quando a Inglaterra, em 1903, introduziu limites de velocidade em suas estradas. Com isso, representantes do clube automobilístico da Inglaterra e Irlanda procuraram o parlamento de Isle of Man para que o país permitisse o uso das estradas para competição. Ou seja, tudo começou com corrida de carros, sendo só em 1907 que a competição com motocicleta foi introduzida. 

A prova, que já teve seu circuito alterado no passado devido à dificuldade das motocicletas (da época) em realizar o trecho da montanha, possui atualmente 37,7 milhas, ou 60,6 quilômetros, os quais são percorridos a uma velocidade média de 200km/h, podendo passar de mais de 300km/h.

Não há nada no mundo que se compare ao TT Races.

O que mais chama a atenção é que a prova não ocorre em um autódromo ou circuito fechado, se passando nas mesmas ruas e estradas utilizadas pelos Manxs, parte na área urbana, parte nas montanhas. Além disso não há área de escape e durante o percurso os pilotos passam ao lado de casas, árvores, casas e muros, sem proteção alguma.

Qualquer erro pode ser fatal. Foram cerca de 240 mortes em 106 anos de história, sem contabilizar o número de acidentados.

Não é uma competição para qualquer um.

A prova exige foco, concentração e alto grau de conhecimento técnico dos competidores. E talvez seja isso, a vontade de “tirar sua habilidade a prova” que pilotos do mundo todo se aventuram nessa corrida mortal. Todos irão morrer um dia, e muitos pilotos talvez não se importem de morrer fazendo o que mais amam, pilotar.

Por exemplo Guy Martin, que bateu a 240km/h e sobreviveu por milagre, voltou a competir a mesma prova assim que se recuperou. O risco de perder a vida não é uma barreira para ele, e acredito que não é também para muitos pilotos. Veja o acidente de Guy aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=6wTK9dO9O5A

Por que morre tanta gente?

Muros, casas, postes e árvores, além de tirar a atenção dos pilotos e distrai-los, são obstáculos mortais no caso de choque. Além disso, uma volta tem quase 61 quilômetros, exigindo uma boa memória do piloto do traçado da pista. Tudo isso aliado ao fato de estar em altíssima velocidade,  afinal é uma prova contra o relógio.

Leva o Isle of Man Turist Trophy para casa o piloto que fizer todas as voltas no menor tempo, diferente do MotoGP, que vence quem cruzar a linha de chegada primeiro.

Certamente a chave para vencer a prova é a regularidade. Não adianta fazer apenas uma volta rápida e uma abaixo da média, tem que haver uma consistência em todas as voltas.

Quem detém o recorde de tempo é John Mc Guinnes que realizou a prova em uma velocidade média de 211,7km/h.

Números

Vários nomes estão gravados na história da TT da Ilha de Man, com destaque pro Joey Dunlop (estátua) com 26 vitórias em 78 participações, John McGuiness com 20 vitórias, Mike Hailwood com 14 vitórias em 34 participações, Steve Hislop com 11 vitórias em 26 participações, Giacomo Agostini com 10 vitórias em 16 participações, Phill Read com 8 vitórias em 33 participações e John Surtees com 6 vitórias em 11 participações.

Pelo circuito da Ilha de Man já passaram diversas marcas, com destaque pra Honda com 111 vitórias, Yamaha com 105 vitórias, Norton com 43 vitórias, MV Agusta com 34 vitórias, BMW com 30 vitórias e Suzuki com 28 vitórias.

O único brasileiro a participar da competição é Rafael Paschoalin. O talentoso piloto participou em 2014 e 2015, com certeza motivo de orgulho para todos nós.

Mulheres na competição

A primeira mulher a participar da competição oficialmente foi a inglesa Beryl Swain, em 1962. Como “recompensa” ao grande ato de grandeza dessa mulher, no ano seguinte, sua habilitação internacional foi cassada, com a desculpa que a corrida não era adequada para mulheres.  Após o ocorrido demorou cerca de 10 anos para que outra mulher participasse da competição.

Em 2010, a inglesa Jennifer Rosanne Tinmouth gravou seu nome na história do TT Races como a mulher que fez a volta mais rápida na competição, 193km/h.

Infelizmente ainda é tímida a participação de mulheres na corrida, nos últimos anos Maria Costello tem sido a única mulher a participar da prova.

Curiosidades

Ao longo desses mais de 100 anos a corrida só sofreu interrupção em 3 ocasiões que foram pela Primeira e Segunda Guerras Mundiais e mais recentemente em 2001 pela epidemia de Febre aftosa.

Muita gente não sabe, mas a Honda fez sua primeira aparição em Isle of Man, colocando a qualidade da montadora a prova no TT Races, em 1958.

Outra curiosidade, você já se perguntou de onde vem o nome “TT” do famoso carro da Audi? Pois é, o Audi TT tem seu nome em homenagem à corrida da Ilha de Man, nome em português para Isle of Man.

Para os amantes da prova uma boa opção de compra são os itens relacionados a prova como camisetas, chaveiros e bonés. Eu aproveitei para fazer umas comprinhas na loja.

Apesar do frio amei o país e com certeza quero voltar. Ainda bem que eu tinha a blusa térmica da Solo, nunca tinha andado de moto a uma temperatura tão baixa (menos de 5 graus). Super recomendo, pena que eles não fazem luvas, pois meus dedos quase congelaram.