Histórias ReaisPilote com Estilo e Segurança

Cair, levantar e amadurecer

Cair de moto pode trazer muitos aprendizados

Muitas meninas me pedindo para relatar o acidente que sofri na rodovia Castelo Branco no ultimo sábado. Como não tive quase sequelas, passarei aqui para vocês o meu aprendizado sobre o acontecimento e dicas sobre equipamentos de segurança.

Desde que comecei a pilotar, procurei me qualificar, fazer cursos de pilotagem, me informar, pegar dicas com colegas experientes, assistir aos tutorias na internet e principalmente comprar os equipamentos corretos. Nunca cogitei a possibilidade de andar sem segurança. E graças a isso estou aqui hoje passando este depoimento a vocês, queridas leitoras e mulheres de coragem!

No ultimo sábado eu e mais dois colegas resolvemos almoçar em Itu. A ida foi muito tranquila, pela Estrada dos Romeiros. Fui curtindo um som (que havia acabado de instalar na moto), treinando as curvas, sentindo as marchas e admirando a linda paisagem.

Almoçamos e decidimos voltar pela Castelo Branco, pois seria mais rápida para não pegarmos a estrada à noite. A volta foi muito ruim, pois a minha moto é extremamente leve e as rajadas de vento estavam muito fortes. Alternava a quarta marcha nos trechos mais descampados (para pegar impulso) e quando sentia o vento acalmar, engatava a quinta e acelerava a 100 km/h. Era necessário muita concentração na pista, precisão com a troca de marchas e a tomada exata de distância dos caminhões na faixa da direita, que pareciam sugar a minha pequena motinho como um imã!

O ACIDENTE

De repente, cometi um pequeno deslize com a troca de marchas e vi o guidão praticamente sambar na minha frente. Não sei se na hora que percebi o erro (que durou milésimos de segundo), acionei apenas um dos freios, (provavelmente o dianteiro). Quando dei por mim, estava no chão.

Ao me ver caída no meio de uma rodovia, minha maior preocupação foi ir imediatamente para o acostamento. Não conferi se tinha quebrado algo (o instinto de sobrevivência falou mais alto), só sei que queria sair dali o mais rápido possível (antes que algum caminhão me atropelasse).  Notei que estava muito machucada para sair de lá sozinha, então um carro parou no acostamento e uma moça veio em minha direção. Esta motorista, por uma coincidência muito feliz, era médica e me prestou os primeiros socorros. Foi quando ela rasgou minha calça para ver se havia alguma fratura, que notei que havia ralado muito os joelhos e a barriga (estava de calça jeans e na hora da queda, e o zíper abriu no asfalto). Nesse meio tempo, meus colegas chamaram o resgate, outros motociclistas tiraram a moto do meio da pista (que por um milagre estava praticamente intacta) e fiquei ali tentando assimilar o susto.

Penso que nesta hora Deus enviou vários anjos da guarda para preservar as minhas pernas, parar os carros que vinham vindo atrás e colocar esta moça em meu caminho, que afirmou não ter pensado em outra possibilidade a não ser a de parar e prestar socorro. Os outros motoristas que viram a cena simplesmente foram embora. Esta pessoa fez a diferença em minha vida e serei eternamente grata a ela. O socorrista da CCR Via Oeste também foi excepcional em seu trabalho, me acalmando na ambulância e me acompanhando em todos os exames no hospital para o qual fui encaminhada. Meus colegas que estavam comigo também me ajudaram muito com a parte burocrática, encaminhando a moto para o guincho e cuidando dos documentos para dar minha entrada na emergência. O serviço da seguradora também foi excelente, indo me buscar em outro município e me entregando na porta de casa, sã e salva.

Passado o susto e alguns dias após assimilar o ocorrido, tenho como missão transmitir algumas dicas, lições e mensagens para vocês, motociclistas guerreiras.

EQUIPAMENTOS

Alguns dias antes do acidente fui na rua General Osório comprar novos equipamentos. Com aproximadamente R$ 1.000,00 comprei acessórios bacanas e de qualidade.

Tire da sua poupança. Peça de presente para seus avós. Parcele em 20 vezes. Deixe de fazer comprinhas durante alguns meses em sua loja de departamentos favorita. Mas por favor, INVISTA EM EQUIPAMENTOS. É poupança de vida na hora do “vamos ver”. Chega de pilotar de shorts, bracinhos de fora e sapatilhas, meninas!

MATURIDADE

Acho que tombos servem para nos dar um pouco de humildade, para nos lembrar que o risco existe, para nos encorajar, para conhecermos melhor nossa moto, para lembrar que nós humanos somos frágeis e precisamos pedir o cuidado de Deus antes de sair de casa e agradecê-lo ao chegar. A minha moto e minha vida estão realmente protegidas por Ele.

DISCERNIMENTO

Após um acidente, você ouve diversas opiniões das pessoas mais próximas. É inevitável, elas vão emitir algum palpite (construtivo ou destrutivo) a respeito do acontecimento. Você passa a conhecê-las um pouco melhor e o que elas realmente pensam ao seu respeito, através de suas reações.

Nesta hora, esteja preparada, pois você vai se deparar com 3 tipos de pessoas: os que realmente se importam com você (geralmente sua família), fazem visitas durante sua recuperação, te oferecem ajuda para coisas simples do dia-a-dia como descer uma escada por exemplo, ou mesmo perguntam carinhosamente: “você está se sentindo melhor hoje?”. Estas pessoas são as que você deve levar para o resto da vida . O segundo tipo, são os que tentam emitir uma certa “empatia forçada”, com frases do tipo “não se preocupe, você se recuperará rápido”. Dito isto elas acham que já fizeram sua parte e um “enorme” esforço com este conselho praticamente dispensável. E o terceiro tipo (e que mais te decepcionam) são as que simplesmente não oferecem nenhum tipo de ajuda e ainda por cima dizem algo como “você sabia que moto era perigoso, você mesma foi atrás disto”. Fique atento a este tipo, que te culpa pelo próprio acidente, com total frieza em sua expressão. Por estes devemos ter compaixão, pois geralmente são pessoas machucadas pela vida e que por isso não sabem oferecer ajuda ao próximo. Mas, nosso Pai conhece o coração de cada um e cabe apenas a Ele julgá-las.

Creio que a vida aconteça regida pela vontade de Deus e Ele, por alguma razão quis que eu passasse por isso. Sou grata a Ele todos os dias pela minha vida, por me dar clareza após o acidente para ter o discernimento de enxergar quem realmente me apoiaria em uma hora difícil e quem só estaria ali na hora do oba-oba. Sim, a verdade é bem dura.

GRATIDÃO

Tenho notado alguns motociclistas extremamente neuróticos e infelizes (sem generalizar). E não estou falando dos motofretistas, que passam momentos de estresse durante o dia neste trânsito caótico, e sim de pessoas com condições para viajar com suas motocas por aí.

Reflita o quão sortudo você é. Agradeça a Deus pela paisagem, pela natureza e pelo vento no rosto. Sinta o sangue correndo por suas veias a cada viagem. Pense nos outros pilotos como irmãos: os homens, as mulheres, os mais experientes, os que estão começando agora… Por favor, pare de comparar se você pilota melhor do que o colega na moto ao lado, pare de resmungar e agradeça pela vida abençoada que leva. Muitos queriam estar em seu lugar. Positividade atrai positividade.

Sem clichês: sou cada dia mais grata e feliz com o estilo de vida que escolhi!

CONTRIBUIÇÃO

Dizem que a vida te dá um limão e você faz uma limonada. Se voltei para contar para vocês este depoimento foi graças a meu bom Deus, que me trouxe até aqui. Um acidente faz a gente amadurecer muito (como motociclista e como pessoa). Mais do que os machucados (que não foram nada), ficou um enorme aprendizado. Espero poder ter contribuído, afinal estamos todos aqui para aprender. Abraços da sobrevivente mais viva do que nunca! (rs)

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Lais Regina

Lais Regina (SP). Colunista deste portal, vocalista, consultora de branding, designer gráfico e blogueira do www.laisregina.com

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24 Comentários

  1. Realmente pessoas certas apareceram na hora certa. Nunca imaginei que o atendimento do socorro da estrada fosse tão bom.
    Agora é dar a volta por cima, subir na motoca e vamo que vamo.
    E não esquece que to aqui se vc quiser "treinar" pela cidade. 😉

  2. Parabéns guerreira, e obrigada por compartilhar tantas emoções e lições de vida com todas nós!!

  3. adorei o texto Lais! Esse negócio dos equipamentos é muito importante e quantas gatinhas de shorts e legging vemos nas BRs por ai né? Me da um ruim só de ver…

  4. Parabéns Lais Regina, adorei seu depoimento! Tenho uma pequena INTRUDER, 58 anos de idade, e apenas tres anos como motociclista. Obrigada pelas dicas a todos nós, apaixonados por motos. Eu procuro pilotar com segurança.
    Ainda bem que foi somente um susto e você está aí inteirinha para continuar curtindo a "sua moto". Um grande abraço!

  5. Olá Lais! Otimo texto, boas dicas e parabéns por ser tão forte e guerreira, os tombos fazem parte da vida; seja na moto, seja nas situações que enfrentamos diariamente. Nossa força está em como vemos e reagimos a tudo isso. Muita força e esperamos que você já esteja muito bem! Beijos.

  6. Acho que a palavra agora é SUPERAÇÃO. Tocar a vida, levando na bagagem essa experiência e fazer dela um exemplo, um conselho e uma história. Fuerza!!

  7. Como diria aquele velho ditado…. só existem 2 tipos de motoqueiros, os que já caíram e os que vão cair. Você já faz parte do grupo na qual eu também faço. Já cai 3 vezes, não deixe isso acontecer com vc.

    Beijos
    JJ

  8. Emocionante suas palavras. Parabéns, não tenho dúvidas que atendeu ao pedido Dele ao passar a sua experiência para outras pessoas. 🙂

  9. Ainda estou fazendo as aulas obrigatórias (20), para poder tirar a habilitação,mas já tive algumas quedas no transito da minha cidade. Nada se compara ao que foi relatado nesta materia, mas sempre que se sofre uma queda de moto, aprende-se muito

  10. #Acho que tombos servem para nos dar um pouco de humildade, para nos lembrar que o risco existe, para nos encorajar, para nos conhecermos melhor, para lembrar que nós humanos somos frágeis e precisamos pedir o cuidado de Deus antes de sair de casa e agradecê-lo ao chegar. A minha vida está realmente protegida por Ele.

  11. Adorei seu texto. O que aconteceu com vc aconteceu comigo ontem.. Em menor proporção, mas aconteceu… E assim como vc, o único item que eu não usava era a joelheira… E meu joelho foi o primeiro que se chocou com o chão. Estou muito bem, graças a Deus. Saí da queda com a mesma sensação sua, de que Deus me deu uma nova oportunidade e que talvez eu não estivesse prestando atenção nas pequenas coisas…

  12. Muito obrigado por compartilhar sua experiência, Lais. Isso é o que faz a diferença no mundo tão egoísta que vivemos hoje. Deus abençoe a todas nós em nosso mundo duas rodas. bjokas

  13. Muito interessante o post! Acho que todo mundo, homem, mulher, idoso, o que for, tem o direito de pegar uma motinha e curtir a vida! Muito fácil dizer que “não pode, é muito perigoso”, e mandar comprar um carro (como se a pessoa tivesse dinheiro ou mesmo que tenha, como se fosse a mesma coisa pra ela!), dizer que “a culpa foi sua que se arriscou”. Difícil é assumir a responsabilidade pelos seus atos, dirigir com segurança e prevenção!

    Com certeza toda queda tem seu aprendizado, mas achei interessante o aprendizado sobre a reação das pessoas. Nem comprei minha moto ainda mas já sinto esse tipo de reação das pessoas. Adorei o site! Que muitas mulheres se sintam motivadas e saibam que não estão sozinhas! E que tornem as ruas rosa! Ou da cor que quisermos <3

  14. Como um acidentado, como um aspirante à motoqueiro que deseja muito também sentir o vento no rosto em cima de uma motocicleta!

    Admirável depoimento e aprendizado! Parabéns por ser assim!

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